27 de agosto de 2009

NENHUM HOMEM É ESTRANGEIRO

13 de Agosto de 2009. Biarritz (França). Contemplando ainda as areias e o mar de Biarritz e recordando os sanguíneos entardeceres dos céus de Espanha das últimas semanas, é novamente Joseph North (que tanto marcou a minha adolescência) e as suas memórias da Guerra Civil espanhola que me assistem. Não resisto a transcrever parte do texto que Hemingway, que acompanhou também as Brigadas Internacionais, escreveu em 1939, a pedido de North, para o jornal de esquerda norte-americano New Masses: “(…) Esta noite os mortos dormem frios, em Espanha, e frios dormirão durante todo este Inverno, e a terra com eles. Mas na Primavera virá a chuva e tornará a terra de novo generosa. O vento soprará, suave, sobre os montes, vindo do Sul. As árvores pretas renascerão, vestidas de folhinhas verdes, e haverá flores nas macieiras, ao longo do rio Jarama. Nesta Primavera, os mortos sentirão a terra recomeçar a viver.
“Porque os nossos mortos são agora uma parte da terra de Espanha, e a terra de Espanha nunca poderá morrer. Parecerá que morre em cada Inverno, mas em cada Primavera renascerá. Os nossos mortos viverão com ela eternamente. Assim como a terra nunca poderá morrer, assim também aqueles que alguma vez foram livres não regressarão à escravatura. (…) Os fascistas podem alastrar pelo país, abrindo caminho à força com o peso do metal trazido de outros países. Podem avançar ajudados por traidores e cobardes. Podem destruir cidades e aldeias e tentar manter o povo na escravidão. Mas não é possível manter nenhum povo na escravidão. O povo espanhol voltará a erguer-se, como sempre se ergueu, contra a tirania.” (fotos Joel Cleto)