6 de outubro de 2009

CINDERELA NA CALDEIRA

4 de Outubro de 2009. Caldeira, Península de Tróia, Reserva Natural do Estuário do Sado. Numa das extremidades da longa língua de areia e dunas que formam a península de Tróia (concelho de Grândola) desenvolve-se uma vasta zona estuarina de características naturais e ambientais única: a Caldeira. Localizada a um par de quilómetros da área turística e hoteleira de Tróia e das suas emblemáticas torres, a Caldeira passa no entanto despercebida à esmagadora maioria dos turistas que para aqui se dirigem. Tal "invisibilidade" resulta, em grande parte, da inexistência de acessos, mas também do facto das dunas e da vegetação ocultarem esta área lagunar. Tal explica, igualmente, o facto de aqui subsistir uma pequena comunidade tradicional de pescadores e marisqueiros cujas habitações, muito perecíveis na maioria dos casos, se localizam nas bordas da Caldeira.
Mas este é também um local que nos faz reflectir sobre o estado actual das pescas em Portugal. Aqui, nas margens do estuário, os barcos de pesca vão apodrecendo. Mas mais do que vestígios de arqueologia naval ou industrial, estas carcaças são, no seu silêncio ensurdecedor, uma denúncia da forma trágica e descuidada como este sector (não) foi salvaguardado na sequência da adesão de Portugal ao Mercado Único europeu (fotos Joel Cleto).